terça-feira, 11 de fevereiro de 2020
“Viva a SBPC por mais esta página em sua história”, escreve Vanderlan da Silva Bolzani, presidente da Aciesp e membro do Conselho da SBPC, em artigo sobre a importância do Prêmio “Carolina Bori Ciência & Mulher” que a SBPC realiza hoje, em celebração ao Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência
O que as sociedades representativas da ciência brasileira, como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), podem fazer para mudar a condição das mulheres cientistas no país e no mundo? Parte da resposta está na decisão da Assembleia Geral da UNESCO, de 22 de dezembro de 2015, que estabeleceu o dia 11 de fevereiro como Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência e na Tecnologia. A data tem o propósito de reconhecer o papel das cientistas no desenvolvimento econômico e social das nações. A importância da questão de gênero pode ainda ser vislumbrada no documento 5o ODS 2030 (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU 2030), que trata da igualdade de gênero. O processo de evolução da humanidade, no qual as mulheres acabaram “naturalmente” ocupando um lugar inferior registrou avanços fundamentais, mas ainda apresenta enormes desafios.
Dados do MEC/Inep do censo da Educação Superior de 2018, referentes às grandes áreas do conhecimento, nos levam a uma euforia ilusória. Excluindo as sugestivas áreas onde as mulheres tradicionalmente estão presentes em menor número, isto é, engenharias, construção e computação, elas são maioria nos cursos de graduação nos demais campos de conhecimento: saúde (75%), educação (75%) ciências sociais, jornalismo e informação (72,2%), negócios, administração e direito (58%), artes e humanidades (56,3%), ciências naturais matemática e estatística (54,1%) e assim por diante. Mas não vamos nos iludir! O funil permanece quase que inalterado. No topo da escada essa presença se reduz drasticamente. Em essência, mudanças ocorreram, mas estão longe de serem robustas para impactarem nos índices estatísticos mundiais. Daí a importância de se premiar cientistas renomadas e inspiradoras com histórias marcantes, que sirvam de modelo para jovens aspirantes a cientistas.
Foi com este princípio que durante a nossa gestão na SBPC, com total apoio de mais de 140 associações científicas afiliadas, criamos em 2019 o Prêmio “Carolina Bori Ciência & Mulher”, como uma forma de homenagear cientistas renomadas. O nome de Carolina Bori foi escolhido em razão de ter sido ela a primeira mulher a assumir a presidência da SBPC, numa época em que a maioria absoluta das mulheres eram educadas para serem as “donas do lar”. Para nossa satisfação, a proposta foi bem recebida por toda a Diretoria e Conselho da entidade e hoje estamos realizando o 2º Seminário “SBPC e as Mulheres e Meninas na Ciência”, mais uma ação entre tantas outras bem-sucedidas já implementadas pela SBPC.
Com esta realização, a SBPC atende aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis 2030 da ONU criando um evento anual dedicado às mulheres e a premiação em duas categorias: sênior e jovens cientistas. A justa homenagem deste ano vai para Helena Nader, professora da Unifesp, premiada pelo excelente trabalho prestado como cientista e grande defensora de um país socialmente mais justo, onde educação, pesquisa e inovação são essenciais. Trabalhou e trabalha de forma incansável pela educação, ciência e tecnologia do Brasil há muitos anos e mais intensamente nos últimos 10 anos, à frente da presidência da SBPC. Atualmente é vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC).
A Menção Honrosa é outro destaque da nossa Academia. A cientista social, Alice Rangel, da UFRJ, é reconhecida mundialmente e tem uma atuação marcante e destacada na defesa da igualdade de gênero. Com uma posição na ONU, tem sido um destaque brasileiro e isto carimba a excelência das premiadas com o Prêmio Carolina Bori 2020.
Mesmo diante de muitas conquistas conseguidas pelas mulheres na ciência, somos ainda muito pouco representadas no mundo acadêmico como pesquisadoras, algo em torno de 30% dos postos nos escalões superiores. Alguém já disse que a experiência é como um automóvel com os faróis colocados na parte de trás. Ela ilumina o caminho já percorrido, o passado. E nós, da Universidade, que estamos hoje com menos de um século da institucionalização da pesquisa científica no Brasil, podemos nos perguntar, com um pouco de humildade: como utilizar essa experiência em benefício dos jovens estudantes e pesquisadores de todo o país, especialmente num mundo global complexo, competitivo e incerto? Quais são as palavras que podem iluminar os atores do nosso futuro? Não há respostas prontas! Mas vejo luz, criatividade e muitos sonhos em cada um! Em especial nas meninas. Viva a SBPC por mais esta página em sua história.
Finalizando, me dirijo às cientistas mulheres, em particular às jovens. Eu que vivi num mundo onde os livros não tinham mulheres protagonistas, e lembrando que somos 50% da humanidade, mas apenas 30% pesquisadoras em âmbito mundial, gostaria de ressaltar a importância das ações da SBPC e, aqui, destaco o prêmio Carolina Bori, criado por nós com objetivo apoiar e estimular a presença feminina no espaço científico nacional.
Sobre a autora:
Vanderlan da S. Bolzani, Profa. Titular do IQAr-UNESP, presidente da Aciesp e membro do Conselho da SBPC