terça-feira, 8 de março de 2022
“No caso do Brasil, a distorção se dá em uma sociedade onde a desigualdade de gênero convive com carências dramáticas de educação básica e média para grandes faixas da população”, alerta Vanderlan da S. Bolzani, professora do IQAr da Unesp, presidente da Aciesp e membro do Conselho da SBPC
De forma lenta, mas segura, a preocupação com o futuro profissional deixou de ser inerente ao mundo masculino para se integrar à vida de meninas e jovens mulheres, graças à mudança de mentalidade construída ao longo de décadas. É impossível dizer em que escala a mudança alcança as diversas camadas da população, mas é certo que a ideia de mulheres atreladas somente à vida doméstica foi se tornando uma imagem antiquada.
No entanto, os ganhos obtidos com tal evolução não devem encobrir a realidade que ainda é marcada por gritantes diferenças de gênero, quando se considera o trabalho, remuneração e oportunidades. Continua sendo “natural” que os rapazes da família optem pelos cursos de engenharia ou tecnologia, enquanto as meninas escolham profissões que não exijam os embates com as disciplinas “conhecidas como duras”, como a matemática ou a física. Alterar essa situação é um grande desafio, pois parece natural e está incorporada à visão de mundo das próprias mulheres, mesmo aquelas que pertencem a um ambiente familiar e intelectual detentor da melhor formação educacional, onde meninos e meninas podem encontrar referências para suas escolhas pessoais no universo global tão propalado das “sociedades 5.0”.
Não obstante, os avanços atuais sobre a desigualdade de gênero, quinto objetivo dos ODS 2030, ONU, as estatísticas são claras e mostram a predominância masculina marcante nas áreas profissionais identificadas como STEM (do inglês: Science, Technology, Engineering, and Mathematics e em português: Ciência, Tecnologia, Engenharias e Matemática). No caso do Brasil, a distorção se dá em uma sociedade onde a desigualdade de gênero convive com carências dramáticas de educação básica e média para grandes faixas da população. Meninas e adolescentes mulheres que não têm acesso ao ensino básico e médio logicamente enfrentarão dificuldades muito maiores para conquistar sua consciência sobre igualdade de direitos.
Contatos com alunas do ensino médio, em palestras e reuniões sobre ciência realizadas nos últimos anos mostram ao mesmo tempo, uma geração de jovens inquietas e questionadoras em busca de respostas sobre a vida profissional. A mentalidade tradicional que naturaliza a escolha das profissões e aceita como normal os postos mais relevantes serem ocupados por homens não resistem ao raciocínio crítico seriamente treinado nos bancos escolares.
Assim, todos os caminhos levam à educação.
O tema escolhido pela Organização das Nações Unidas (ONU) para o Dia Internacional da Mulher este ano é “igualdade de gênero hoje para um amanhã sustentável”. Em âmbito global, aponta a ONU, as mulheres são mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas. Elas constituem a maioria nas populações pobres em um cenário onde essas mudanças amplificam as desigualdades sociais e reduzem as possibilidades de acesso a uma vida melhor. Esse “amanhã sustentável”, por sua vez, só pode ser imaginado com a força transformadora da educação. Uma educação onde todas as meninas e meninos do planeta, independente de status social, raça ou religião seja excelente, inclusiva e encha seus corações e mentes de esperanças de um mundo sustentável, mais humano e feliz!
* Os artigos refletem unicamente a opinião de seus autores